Ameaças virtuais de exploração sexual representam perigo real
Entre janeiro de 2006 e junho deste ano a organização não governamental (ONG) SaferNet Brasil, que atua em conjunto com a Polícia Federal e o Ministério Público no combate à pornografia infantil, recebeu mais de 190 mil denúncias de sites com esse tipo de conteúdo.
Casos como o do analista de informática do Rio de Janeiro, que prefere não ser identificado, têm se tornado comuns: a ameaça virtual transforma-se em perigo real. Seu filho, de 14 anos, foi aliciado por um adulto na internet. Para ganhar a confiança do garoto, o aliciador fingiu ser uma garota em um site de relacionamento (MSN). Depois, apresentou-se como amigo da suposta menina e, a partir daí, começou a oferecer dinheiro em troca de relações sexuais.
“O sujeito tinha muitos argumentos. No início, meu filho dizia que não iria. Mas o cara foi subindo a oferta até que ofereceu uma moto para o meu filho, e aí ele balançou. Eles até marcaram um encontro, que não aconteceu porque meu filho estava passando mal”, conta o pai.
Em uma olhada de rotina nas conversas mantidas pelo filho no site de relacionamento - que estavam gravadas no computador - os pais descobriram o que estava acontecendo e afastaram o adolescente da rede. Mas, a essa altura, o criminoso já sabia até o endereço da família.
“Um dia ele deixou um recado na caixa de correio da minha casa, num papel de caderno, onde estava escrito:“olha, entra no MSN hoje senão você morre.” Aí não era mais virtual, estava na porta da minha casa, me ameaçando de morte”, conta o analista de informática.
Com essa ameaça, o pai procurou a polícia e foi orientado a se passar pelo filho e marcar um encontro com o suspeito. A estratégia funcionou e o aliciador foi preso. Mas nem todos os casos têm o mesmo desfecho. O titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítimas (DCAV) do Rio de Janeiro, delegado Luiz Henrique Marques Pereira, diz que crimes assim acontecem com frequência na internet.
“Para que o abusador tenha acesso a essa rede é cobrado dele o envio de um conteúdo pornográfico. Por conta disso, de qualquer forma ela vai ter que manter contato com uma criança ou adolescente para produzir esse conteúdo e mandar pela internet”, explica o delegado.
Para a coordenadora do Núcleo de Pesquisas de Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Rosa Farah, a maior visibilidade dos crimes cometidos na rede virtual não significa que a quantidade de crimes tenha aumentado.
“As várias modalidades de violência sexual contra crianças e adolescentes sempre existiram, mas talvez nunca tenham se tornado tão conhecidas quanto na atualidade. Isso entrou na pauta de discussão das pessoas, perceptível para o coletivo, justamente por causa da própria internet, da amplitude das comunicações”, explica Farah.
Para combater este tipo de crime o caminho é a denúncia, que pode ser feita no site da SaferNet Brasil ou pelo Disque 100, serviço que recebe denúncias de exploração sexual contra crianças e adolescentes de todo o país.
Da Agência Brasil
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